Ciclo AGÊNCIA - Algumas formas ao alcance de todas as mãos | A arte do trabalho (sessão UNIPOP, 30 Abril, 18h30)

Sábados, 30 de Abril e 7 de Maio | 17H e 18H30
The Barber Shop (Rua Rosa Araújo, n.º 5, Lisboa - metro Avenida)

Entrada livre



Agência é uma entidade abstracta, simultaneamente estrutura e impulso que gera actividade, identificada como intermediária na gestão de negócios pessoais. Mas aqui, o que nos deveria interessar é a própria definição daquilo que é negócio alheio: serão a precariedade, a subsistência, das finanças aos rendimentos, como a própria representação artística, parte dos negócios que não nos concernem como autores e produtores? Ou é esta a componente do negócio da qual nos alheamos voluntariamente, por não a considerar trabalho ou tópico propriamente dito? Deixemos então cair nas nossas mãos, nas suas variadas qualificações e inqualificações, estes negócios alheios, possibilitando a discussão colectiva das vantagens e opções individuais de trabalho para lá do trabalho autoral.

Se a crítica institucional pressupunha a instituição como campo de acção e poder, é possível que esta tenha de se reestruturar e dirigir à vida em si mesma de modo a responder à biopolítica que define o capitalismo actual. Isto porque se por um lado esta dissolução de esferas de competência é tradição do modernismo artístico, por outro lado é para as condições de vida dos artistas que um mercado flexível olha hoje como modelo empreendedor e neo-liberal.

Assim, pedimos emprestado ao falecido pintor Ângelo de Sousa, o título que atribuiu aos desenhos feitos de gestos simples, gramáticas para linguagens entre corpos, capazes de serem feitos por qualquer um, no seu imaginário de equivalência e acessibilidade. Com Ângelo de Sousa, pressupomos então que uma tal passagem da arte às condições e opções de vida podem somente dar-se por um princípio de empatia e agenciamento.

Em quatro sessões abordar-se-ão questões sobre a noção de trabalho em Arte Contemporânea. Estas sessões percorrerão uma reflexão sociológica da área em Portugal (Vera Borges), a análise teórica e filosófica do trabalho precário no capitalismo actual (José Neves/ Miguel Castro Caldas), alguns exemplos de associativismo e activismo laboral (Scottish Artists Union), bem como de quando a arte e direitos de autor se imiscuem na área do Direito (Daniel McClean). Em paralelo serão disponibilizados conteúdos online, que amplificam a área de reflexão do programa, tais como como uma entrevista com os Temporary Services e o seu jornal Art Work, contribuições da Agency de Kobe Matthys, bem como os resultados do inquérito a trabalhadores em Arte Contemporânea circulado online em Portugal em Abril de 2011.

Agência: algumas formas ao alcance de todas as mãos é um projecto concebido por The Barber Shop com Mariana Silva e Pedro Neves Marques.


(sessões)

30 ABRIL 17h

Vera Borges:
Em conversa com Vera Borges, serão abordados alguns dos resultados do inquérito a trabalhadores no campo da Arte Contemporânea em Portugal, circulado on-line em Abril de 2011. A partir destes, será tida uma conversa em torno da sociologia do campo das artes visuais, condições de trabalho, direitos, remuneração e representação.


30 ABRIL 18h30

José Neves e Miguel Castro Caldas - Sessão organizada por Unipop:
Conhecemos bem os efeitos dos processos de mercadorização em curso. Tendem a submeter as mais diversas actividades humanas ao princípio mercantil. Faz-se o que se vende. Nos últimos anos a cultura em geral e a arte em específico têm sido áreas particularmente influenciadas por este princípio. A situação tem gerado inúmeros debates em torno do estatuto do artista e da própria obra de arte, bem como acerca das relações da arte e da cultura com o Estado e com o Mercado.

Ao mesmo tempo, embora, porventura, com menor repercussão a nível dos debates públicos, as actividades mais convencionais de produção de mercadorias - desde logo, as actividades industriais - têm igualmente passado por transformações importantes, redefinindo o estatuto do produtor e do próprio produto. Há quem fale de cidades que se tornam criativas, apoiando-se em processos de gentrificação, e quem refira a emergência de um novo proletariado, um proletariado imaterial, para quem a precariedade é a ordem dos dias e das noites que correm, e o tempo de trabalho e o tempo de vida se tornam indissociáveis: tudo o que se faz é e não é trabalho. É da intersecção destes dois processos - mercadorização da vida, "criativização" do trabalho - que surge o título deste debate: a arte do trabalho.


7 Maio 17h

Peter McCaughey:
Como membro executivo da Scottish Artists Union, a contribuição do artista e professor Peter McCaughey focar-se-á em questões práticas sobre diversas abordagens que poderão guiar os artistas em tempos de acrescida precariedade.


7 Maio 18h30

Daniel McClean:
Dada a sua prática enquanto advogado e curador, Daniel Maclean examinará dois pontos a partir dos quais a Lei interpreta a Arte. Primeiro, a classificação e definição de obras de arte; segundo, a articulação e defesa dos direitos dos artistas. Algumas consequências destas interpretações para a arte e para os artistas serão debatidas, bem como o uso por artistas da Lei em Arte e o que este processo propõe em relação à Lei.


(bios)

Vera Borges é doutorada em Sociologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales e pela Universidade Nova de Lisboa. É autor de vários livros sociológicos sobre o teatro em Portugal, por exemplo Teatro, Prazer e Risco (Roma Editora, 2008), sendo de momento investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

José Neves é professor no Departamento de História da FCSH-UNL e é investigador do Instituto de História Contemporânea da mesma faculdade.

Miguel Castro Caldas escreve para teatro, faz traduções, dá aulas. Co-traduziu o «O Governo das Desigualdades», de Maurizio Lazzarato.

Peter McCaughey é membro executivo da Scottish Artists Union. Em paralelo à sua prática artística, faz investigação e lecciona no departamento de Escultura e Environmental Art da Glasgow School of Art. Tem contribuido frequentemente para comissões, colaborando com arquitectos, urbanistas, engenheiros e designers em think tanks sobre arte pública. Recentemente, contribuiu para o livro Cultural Hijack sobre direitos de artista e preparou uma campanha da Scottish Artists Union que visa desafiar os partidos políticos perante as políticas culturais e artísticas vigentes.

Daniel McClean é curador, escritor e consultor em questões legais ligadas à arte. É advogado na Finers Stephens Innocent, tendo trabalhado com vários artistas em questões de direitos de autor e condições legais, incluindo mais recentemente o projecto dos Superflex Free Sol Lewitt no Van Abbenmuseum, Eindhoven. É o editor do livro The Trials of Art (2008). É formado em Filosofia, Política e Economia pela Universidade de Oxford e em Lei e Propriedade Intelectual pela Universidade de Londres.

Temporary Services é constituído por Brett Bloom, Salem Collo-Julin and Marc Fischer. Tendo começado na cidade de Chicago, está no activo deste 1998, produzindo exposições, eventos e publicações com foco em direitos de artista e questões relacionadas, nos EUA e internacionalmente, incluindo o jornal Art Work: A National Conversation About Art, Labor and Economics (2009).

Agency foi fundada pelo artista Kobe Matthys em 1992 e é baseada em Bruxelas. Tem participado em várias exposições e eventos, incluindo Animism (Extra City - Kunsthal Antwerpen/ Museum of Contemporary Art, Antuérpia), Un-Scene (Wiels, Bruxelas) ou When Things Cast no Shadows: 5th Berlin Biennial (Berlim).


+ info: http://www.thisisthebarbershop.blogspot.com/

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